Your Eternal Lies

 Mesmo tipo (3)


“Não é nada difícil retribuir.”

Ela não queria ser humilde, então por que ela disse isso?

Só um instante depois ela foi capaz de compreender a razão. Ela estava em posição de parecer bem para ele. Ian também se importava com Layla, então esta poderia ser uma boa oportunidade para ele fazer um favor a ela.

"Limpe."

Bem desse jeito.

Olhando para o lenço dele, ela perguntou, mesmo sabendo.

 "O que é isso?"

“Você sua muito.”

Olhos contendo várias emoções derramaram-se sobre ela. Mas nenhum deles era tão bizarro quanto o de Ian Kerner. Com uma expressão que ela não conseguia ler, ele inclinou a cabeça.

Em sua mão estavam as correntes que foram liberadas de seus pulsos anteriormente.

“O Exército Imperial sempre paga o preço de uma vida. Mesmo que seja um prisioneiro a caminho da ilha do Monte…”

Ian deu um passo mais perto. Ele quis dizer que iria retribuir adequadamente, mas ao mesmo tempo estava se certificando de outro fato.

Que ela ainda era uma prisioneira.

Ela olhou nos olhos dele e respondeu com o sorriso mais elegante que conseguiu reunir.

“Ok, obrigado.”

Fazer uma coisa boa não absolvia um prisioneiro. Era fácil cometer um crime, mas era difícil pagar por isso. Mesmo que tenha sido um pecado que eles não cometeram. Ela abaixou a cabeça e humildemente estendeu os pulsos. Ela nem sequer considerou que poderia ser livre apenas fazendo algo assim.

Mas esta pode ser uma oportunidade.

Sua cabeça começou a girar em alta velocidade. Ela moldou sua expressão para ser como a de uma criança olhando para sua mãe irritada. Não importa o quanto ela tentasse, ele não mudou sua expressão de forma significativa, mas a esperança ainda enchia seu coração.

'Olha, sempre há oportunidades.'

Ela perguntou animadamente.

"Você realmente vai deixar eu me lavar?"

"Sim. Mas suas mãos ainda estarão atadas.”

“Droga, como faço para me lavar então? Só poderei mergulhar meu corpo em água como um vegetal?”

“Vou colocar as pessoas ao seu redor.”

“Vou fazer com que me lavem, como uma princesa.”

Enquanto ela estava sendo sarcástica, Ian silenciosamente fez o que tinha que fazer. Algemas frias envolveram seus pulsos e uma fechadura foi presa entre eles. Ao contrário de seu coração, seus braços, acostumados à contenção, acolheram bem as algemas. Seus músculos estavam enrijecidos em forma de submissão agora?

Ela deveria ter movido os braços um pouco mais enquanto estava livre. Teria sido bom esticar de várias maneiras. Quando ela mexeu os dedos tardiamente com pesar, Ian agarrou seu braço com força e interrompeu seus movimentos inúteis.

“Eu disse para você não tentar, Haworth.”

Naquele momento, alguém impediu Ian de tocar em Rosen. Foi o velho cavalheiro que ela viu antes, o Capitão dos Vehes. Ele parecia muito mais velho do que à distância. Ele gentilmente segurou o braço de Layla com uma mão e balançou a bengala, arrancando a mão de Ian de cima dela.

“…Ian Kerner! Que sujeito rude você é. Eu te ensinei a agir assim? Você quer que o salvador de Layla seja acorrentado assim?”

"Capitão."

Ian o saudou informalmente e recuou. Ian era um ex-comandante e o velho era capitão. Foi uma reunião de grandes pessoas.

Um capitão era superior a um comandante de navio? Ele era poderoso o suficiente para empunhar uma bengala contra um herói de guerra? A relação entre os escalões superiores e inferiores era uma coisa misteriosa sobre a qual ela nada sabia. Um velho de idade reverente ajoelhou-se diante de um recém-nascido para prestar homenagem, e um paciente que não conseguia levantar os membros sentou-se no comando do Império.

Ela observou a briga deles em silêncio.

“Liberte a Senhora, mesmo que seja por um momento. Afinal, para onde ela irá? O mar?"

"Não é possível."

"Por que não?!"

“Sob a Lei Imperial-“

“As leis da terra não se aplicam ao mar! Eu sou a lei! Pelo menos nos Vehes!"

Foi há décadas que a era da monarquia absoluta* foi encerrada pelas forças revolucionárias. Os chefes do exército revolucionário selecionaram a Família Real de acordo com os seus gostos, estabeleceram-nos como imperadores espantalhos e iniciaram um governo republicano que defendia uma monarquia constitucional**.

O reino havia se tornado um Império e as classes haviam desaparecido oficialmente… Mas, segundo o velho que ela conheceu na prisão, nada havia realmente mudado. Em primeiro lugar, os líderes que lideraram a revolução eram aristocratas. Apenas o nome dos seus cargos desapareceu, e ser 'cidadão' significava pertencer à classe alta, com certo nível de cultura e propriedade.

Além disso, eram obcecados pelas antigas famílias que se eliminaram do poder e se tornaram condes ou viscondes. A alta sociedade ainda considerava sua linhagem importante, então eles apenas se casavam e socializavam entre si.

Rosen nasceu depois do início da revolução, então ela não tinha nada a dizer sobre isso. Ela não sabia muito sobre questões espinhosas como política ou sociedade.

Acontece que, aos olhos dela, o Capitão e Ian Kerner não estavam enredados em hierarquias sociais tão complexas… Eles pareciam ser amigos íntimos, assim como pai e filho. 

“Você não tem a mínima flexibilidade? O que você está fazendo com o salvador de Layla? Pelo menos solte suas algemas enquanto eu agradeço. Com eles, como posso enfrentar a Senhora?”

“Ela é uma prisioneira.”

“Ela é uma salvadora agora.”

O velho olhou para a neta nos braços.

Havia lágrimas em seus olhos. Até Rosen, um recém-chegado, pôde perceber seu amor afetuoso por ela.

“Ela era uma prisioneira antes de ser uma salvadora.”

“Você nunca entrega a última palavra.”

“Sou um soldado em serviço sob ordens dos militares e não deveria haver exceções à lei.”

O capitão ignorou Ian e sorriu para Rosen.

“Senhora Haworth. Por favor, perdoe este jovem por seu desrespeito e aceite os agradecimentos deste velho.”

Rosen percebeu imediatamente que o capitão vivia como soldado há muito tempo. Com o passar dos anos, ele franziu mais a testa do que riu, e suas rugas criaram uma aura de autoridade e dignidade.

“Ah, esqueci de me apresentar. Desculpe-me, minha senhora. Agora estou aposentado, mas já fui almirante da Marinha. Tenho vergonha de me gabar, mas tenho certeza de que a Senhora já ouviu falar de Alex Reville.”

Não havia ninguém que não tivesse ouvido o nome. Se o herói desta guerra foi Ian Kerner, o herói da última guerra foi Alex Reville. Até ela, que não frequentava a escola, conseguia cantar 'Hino à Vitória' e 'Marinha Valente' do começo ao fim. Alex Reville foi mencionado em ambas as músicas.

'Ele é um homem famoso, merda!'

Henry Reville foi tão rude e Layla Reville tão fofa que ela realmente não pensou muito no nome ‘Reville’.

Ela sabia que parecia familiar. Eles eram a família Reville, que não tinha interesse no comportamento das pessoas de alto escalão.

“…Eu não sou uma Senhora nem uma Haworth. Meu nome é Rosen Walker.”

Foi preciso um pouco de coragem para rejeitar o título repugnante de Lady Haworth. Ela era originalmente alguém que não respondia bem à autoridade, e ainda era um pouco assim agora. Era estranho, mas era verdade. Este foi o resultado de sua luta para viver.

"Então posso chamá-la de senhorita Walker?"

“Faça o que quiser. Não conheço a etiqueta da classe alta.”

Ela tentou responder sem tremer. O capitão parecia estar tentando criar uma armosfera inofensiva à sua maneira, mas ela ainda sentia que estava enfrentando o Imperador. Henry Reville e Ian Kerner a trataram como uma merda, então ouvir palavras tão educadas de um homem tão importante lhe deu dor de cabeça.

“Layla é minha única neta. Se não fosse pela senhorita Walker, ela teria morrido hoje.”

"Sim… "

Ela baixou os olhos e se encolheu.

"Você disse que queria se lavar e comer?"

“Eu apreciaria se você pudesse enviar suprimentos para minha cela. Seria bom ter carne. Como você sabe, é difícil para os prisioneiros obterem nutrição.”

“Não, eu não posso fazer isso. Reembolsá-la dessa forma não pode acontecer. Nossa antiga honra de Reville não permite isso.”

Ela tentou recusar, mas ele era a única pessoa que só conseguia colocar comida na boca dela, independente da honra. Seria um jantar com pessoas de alto escalão, vestidas de maneira escandalosa, comendo com garfo e faca. Só de pensar nisso a fez se sentir cansada.

“Acredito que você pode comer mesmo com as mãos amarradas. Se você não tem planos para amanhã à noite, gostaria de convidar a senhorita Walker para jantar nos aposentos do capitão…”

Foi então que Ian Kerner interveio.

“Isso é demais. Você não deveria fazer isso. Capitão, esta aqui-“

Sem perceber, ela se virou para olhar seu belo perfil lateral. Ela sabia exatamente o que ele iria dizer. 

-Esta mulher é uma assassina, uma bruxa, uma mulher humilde, abaixo da nossa liga, imunda, perigosa…

Estava tudo correto.

[Eu trato todos igualmente.]

Mas ela não queria ouvir essas palavras da boca de Ian Kerner, na voz confiável que a confortara. Com a mesma voz que ela ouviu durante a guerra... Parecia que tudo o que ele disse se tornaria verdade.

[Espero que meu esquadrão possa proteger melhor os fracos, os pobres, os desafortunados, os evitados e os negligenciados.]

“…Ela é uma assassina.”

“Obrigado, capitão. É uma honra. Estou sempre com fome e só porque estou de mãos atadas não significa que não possa comer. Você come com a boca, não com as mãos.”

A voz de Ian e a dela se sobrepuseram. Eles se entreolharam. Bem, para ser mais preciso, ele olhou para ela com uma expressão confusa, e ela olhou para ele com sinceridade.

“Além disso, existe o risco dela escapar-”

“Eu não posso fugir. Sir Kerner me contou algumas coisas sobre os seres neste mar.”

-Você pegou um panfleto de novo, Rosen?

-Estava apenas flutuando…

Ela odiava admitir, mas tinha expectativas excessivamente altas em relação a ele. Cada vez que ela confirmava que Ian era diferente de suas fantasias, ela ficava com raiva e não aguentava.

Teria sido melhor se ela não tivesse conhecido Ian Kerner. Não, eles não deveriam ter se conhecido como carcereiro e prisioneiro. Ele deveria ter permanecido em sua fantasia. 

“Não é mesmo? Sir Kerner?"

“…”

Mas o que ela poderia fazer? A vida sempre a levou em uma direção indesejada. Ela nadou até aqui sem nadadeiras ou guelras, agitando as mãos e os pés. 

Ela não podia se dar ao luxo de desperdiçar suas emoções em uma fantasia fraca.



* Uma forma de monarquia em que o monarca é o único a decidir e, portanto, governa por conta própria.

** Um monarca exerce autoridade de acordo com uma constituição escrita ou não.

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